quarta-feira, setembro 14, 2005

António Gedeão

Mais um poema do meu poeta de eleição.

Poema do coração

Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,

e também a Bondade,

e a Sinceridade,

e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração.

Então poderia dizer-vos:

"Meus amados irmãos,

falo-vos do coração",

ou então:

"com o coração nas mãos".

Mas o meu coração é como o dos compêndios.

Tem duas válvulas (a tricúspida e a mitral)

e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).

O sangue ao circular contrai-os e distende-os

segundo a obrigação das leis dos movimentos.

Por vezes acontece

ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados,

e uma lâmina baça e agreste, que endurece

a luz dos olhos em bisel cortados.

Parece então que o coração estremece.

Mas não.

Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,

que esse vento que sopra e ateia os incêndios,

é coisa do simpático.

Vem tudo nos compêndios.

Então, meninos!

Vamos à lição!

Em quantas partes se divide o coração?

2 comentários:

armando s. sousa disse...

É um gosto comum, partilhar o apreço pela obra de António Gedeão.
Um abraço.

Anónimo disse...

como ele uniu alguma ciência coma poesia...